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segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

A caminho

Bem distante dali, em Phællans, chegava o comunicado da prisão de Corr Sairy:

“A todos os planetas-membros da Confederação Galaxial, comunicamos que o crisyeno Corr Sairy foi preso pelos crimes de transporte ilegal de Materiais e pessoas, sequestro de governante, membro ou representante de um governo dos planetas-membros da Confederação Galaxial, mercenarismo e assassinato de um governante, membro ou representante de um governo dos planetas-membros da Confederação Galaxial, indo contra as Leis da Confederação Galaxial. Seu encarceramento é na sede da Confederação Galaxial, no planeta Thrittan, do sistema Vertus. Seu julgamento será presidido pelo Confederado-mor Stahirr, de Thrittan, tendo como acusador o Confederado Antares, de Mæsttra. O réu ainda não escolheu o seu defensor, o que poderá ocorrer em breve. Assim que for escolhido o defensor de Corr Sairy, dataremos o julgamento e divulgaremos nos canais de comunicação formal. Convidamos a todos os líderes dos planetas-membros da Confederação Galaxial para testemunharem mais este ato de manutenção da segurança da Confederação Galaxial”.

Li Kkan percebeu que haviam acrescentado mais um crime a ficha de Corr Sairy, então logo decidiu entrar em contato com Pan Rrar:

- Pan Rrar, que crime é este que acrescentaram a ficha de Corr Sairy. Sequestro? Quem ele sequestrou?

- A porcaria do Migoto de Volos VI o acusou de sequestrar a Megami Aryannin. – Disse Pan Rrar com a voz claramente irritada. – Aquele canalha culpa Corr Sairy de se aliar ao krarrashin e a outra pessoa, citando claramente Kotharyn e Marcelle Menken. Corr Sairy a salvou do Gisei imposto pelos ascendentes dele e aquele imbecil ousa acusa-lo...

- Mantenha a calma, Pan Rrar. – Surge Ja Kris na projeção. – Desculpe meu esposo, Ubukhosi. Quando chegamos aqui, fiquei ciente deste novo crime imposto a Corr Sairy. O Migoto Akonyionn decidiu informar ao Confederado Antares que Corr Sairy foi o responsável pelo sequestro da Megami Aryannin. Em entrevista direta ao Confederado-mor Stahirr, o Migoto informou que Corr Sairy requereu um resgate de 100 créditos, foi pago e não a devolveu. No auto diz que Corr Sairy havia combinado com o krarrashin Kotharyn de sequestrarem Aryannin para impossibilitar a defesa do planeta contra Domminon, que seria através do Gisei da Megami. Marcelle Menken foi incluída nos autos como cumplice de Corr Sairy.

- Então, além de acusarem Corr Sairy de sequestrador, também o acusam de se aliar (não de forma direta) à Domminon? – Argumentou Li Kkan. Neste mesmo instante, entraram Aryannin, Kotharyn e Marcelle Menken, que haviam sido convocados antes da comunicação com Pan Rrar e Ja Kris. – E a Confederação Galaxial acreditou nisso?

As falas enraivecidas de Pan Rrar podiam ser ouvidas, mas Ja Kris fez o que sabia fazer melhor, ignorar os ataques de raiva de seu marido:

- Não há como refutar as provas, Ubukhosi. Seria a palavra do Migoto contra a de um crisyeno acusado de vários crimes...

- Eu poderia falar por Corr Sairy. – Disse Aryannin, interrompendo a fala de Ja Kris. – Sei o que devem pensar, que sou jovem e ainda não atingi meu ciclo completo, mas os volosis esquecem de uma coisa, eu sou a Megami deles. Desde que eu e Kotharyn fugimos do meu cárcere, venho me condicionando a lembrar de quem eu fui. As lembranças vêm aos poucos, mas já me recordo até meu décimo keshin, quando assumi o risco de aceitar os krarrashins. Domminon não desejava se desfazer deles, pois dizia que eram excelentes mãos de obras, mas não podia aceita-los naquelas condições e ofereci a Domminon algo que ele não poderia recusar, Volos IV, o planeta-plantio. Ele o dizimou. Mas eu transformei Volos V em um planeta tão rico para plantio quanto era Volos IV. Aos krarrashins destinei Volos III. Eu sabia que eles conseguiriam transformar aquele planeta estéril, e o fizeram. Akytiorr foi pérfido e seus descendentes, também. Eu posso falar por mim mesma e defenderei Corr Sairy contra esta acusação caluniosa. – Todos a olhavam com respeito, ainda mais por verem uma vivacidade em seu olhar que não enxergaram antes:

- Então, Megami Aryannin, pedimos que venha para cá, o mais breve possível. – Falou Pan Rrar, de forma mais calma, ampliando o campo da projeção holográfica, assim poderiam ver a ele e Ja Kris. – Ababusi Li Kkan e Elizabeth, quando podem vir? Não podemos mais aceitar esta perfídia contra Corr Sairy.

- Antes precisamos que faça algo por nós, Pan Rrar. – Disse Elizabeth, antes que Li Kkan pudesse falar. – Avise a Confederação Galaxial que desejamos que comecem a alongar a mesa de Conferência dos Confederados, pois em breve Krarrash fará parte dele. – Aquilo surpreendeu a todos, até mesmo Li Kkan. – Aproveitando o ensejo e a presença de nosso Confederado e de nossa Umholi omkhulu e, lógico de meu marido e Ubukhosi, Kotharyn de Krarrash, lhe ofereço o sexto planeta do sistema K-Rarr para se tornar uma nova Krarrash... ou Krarrash II, se preferir.

Li Kkan lhe deu um sorriso de orgulho. A volta de todos, só viam os membros da guarda Ubukhosi se curvando, bem como Pan Rrar e Ja Kris, em demonstração de orgulho de sua Ubukhosi. Kotharyn olhava com surpresa e apreensão, com lágrimas brotando de seus olhos. Aryannin, demonstrando ser uma poderosa Megami, começou a gravitar ao lado de Kotharyn, lhe pousando a mão no ombro do seu gigantesco amigo:

- Aceite, Kotharyn. – Aryannin disse. E ele, em um gesto solene, ajoelhou-se diante de Elizabeth:

- Vamos, pare. – Elizabeth, com os olhos marejados, disse. – Os outros eu entendo, pois é típico de um phællansis curvar-se em concordância com seus Ababusi, mas você tem título nobre, também. Sua família era nobre em Krarrash, não é? – Kotharyn se levantou e concordou com o balançar da cabeça:

- Não tenho outro modo de lhe agradecer, Ubukhosi Elizabeth. – Disse Kotharyn com sua voz austera. – Agora é torcer para que meu povo aceite. – Todos olharam surpresos para Kotharyn:

- Como assim seu povo aceitar, Kotharyn? – Questionou Elizabeth.

- Bem, desde que o Migoto Akytiorr nos tirou nosso direito de liberdade, nosso povo se acostumou a submissão. No começo, de acordo com que contava nosso yaratıcı, Kytharyn, houve resistência. Até um desejo de independência. Mas sem a água fornecida por Volos VII, em breve perderíamos nossas plantações, ou mesmo a energia fornecida por Volos II, estaríamos acabados. Nada contra a sua forma de agir, Aryannin, sei bem que fez desta forma para manter os volosis ativos e engenhosos, mas isso os tornou gananciosos, também. Eles perceberam que cortando nossas fontes de suprimentos, ficaríamos sem nada. Então cedemos.

“Foram cinco encarnações que não foram em frente, oitenta ciclos, então nós, os krarrashins, nos submetemos a total servidão. Mas nem todos aceitávamos. As histórias que meu pai me contava, do meu povo sempre forte, progredindo e sendo independentes, livres, me fazia acreditar que poderíamos ser assim. Procurei o Conclave krarrashin que, mesmo com tudo que ocorria, foi mantido, pois eram sempre escolhidos os mais sábios e sapientes entre nós. Meu pai era membro. Falei-lhes o que desejava para nosso povo, que deveríamos libertar Aryannin de sua cela e deixa-la se tornar sapiente de quem era, mas eles não quiseram me ouvir. Quando meu pai ascendeu, o Conclave desejava que meu akraba[1], Kyrharin, ocupasse seu lugar. Mesmo mais novo do que eu, eles acreditavam que ele faria o certo. Mas eu não podia aceitar a imposição, então sem permissão do Conclave, eu agi e aqui estamos”.

Todos ouviram com atenção o relato de Kotharyn, mas foi Li Kkan o primeiro a falar:

- Se tem um povo que sabe o que é ser atacado por Domminon, este é o meu. K-Rarr não foi nosso primeiro sistema estelar. Acredito que Marcelle esteja ciente agora, já que passou todo este tempo em nossa indlu yezincwadi[2], que nossa história vem de muitas eras atrás.

“Meu ancestral, Ly-Kothon, teve de enfrentar a fúria de Domminon, que desejava nos dominar. Mas éramos amaqhawe e tínhamos tecnologia avançada, sabíamos nos defender de um pirata tão atroz. Percebendo que não nos submeteríamos facilmente, Domminon disparou o que chamamos de Dispositivo Supernova, um artefato que ele injeta no núcleo de uma estrela, fazendo-a expandir até que ocorra uma explosão e consuma todo o sistema estelar. Como Ly-Kothon ordenara o monitoramento da estrela, pois os ososayensi sempre o preveniram que tempestades poderiam causar problemas nas redes de energia ou mesmo intensas ondas de calor, ele teve consciência que algo alterou na estrela e então preparou um grupo de arcas espaciais para enviar os membros de seu povo para fora do planeta. Foram somente cinco arcas espaciais, com um total de 500 mil phællansis em cada. As arcas ainda tinham provetas incubadoras, com fauna, flora e mais gametas masculinos e femininos de nosso povo. O planeta foi consumido pela supernova e mais de dois bilhões de phællansis pereceram. Domminon e seus dois irmãos ainda caçaram e destruíram três arcas. No quinto planeta de K-Rarr pousou uma das arcas. Ly-Kothon havia colocado cada membro de sua família em uma arca, pois era um estrategista. Assim que conseguiram terraformar o planeta, plantar o que era necessário se produzir, dividiram-se para explorar. Também se comunicaram com a arca sobrevivente para que ela viesse para aquele local. Assim mais de um milhão de phællansis iniciaram este novo planeta. O neto de Ly-Kothon, Ly-Khabor, assumiu a soberania da nova Phællans, e aqui estamos. Então, se nós conseguimos, Kotharyn, vocês também conseguirão”.

Elizabeth passava as mãos nos longos cabelos bronzeados de seu marido. Li Kkan gostava daquele afago. Cortando o momento cativante, Ti Kkrus adentra no salão:

- Ubukhosi Li Kkan, desculpe interrompê-los, mas chegou um comunicado da Terra que não conseguimos passar. Era do major Skill Hawkesley, dos Guerreiros Alados. Era a respeito de Corr Sairy.

- Tem como fazer o comunicado direto daqui, Ti Kkrus? – Questionou Li Kkan. O engenheiro acionou o seu bracelete de controles remotos e uma projeção holográfica surgiu diante dos presentes na sala do trono de Phællans:

- Ubukhosi Li Kkan. – Disse Skill Hawkesley, que parecia um nobre com uma postura ereta e asas prateadas que reluziam em suas costas. Ao seu lado estava sua esposa, a agufalgaviana H-Kik, os filhos gêmeos de Li Kkan e Elizabeth, Sth Nnie (que também possuía enormes asas prateadas nas costas) e Sw Fitt, o marido de Sth Nnie, Ronald Howard (que também tinha asas prateadas) e o jovem Ricardo Dévero, que portava um chapéu de vaqueiro. – Nos desculpe, mas a conexão caiu, pois estamos passando por instabilidades na Terra e, convenhamos – abriu os braços, mostrando todos perto dele – estou forçando bastante a projeção holográfica.

Sw Fitt era o único que aparentava estar desconfortável por estar naquela projeção, mas permanecia ali em respeito aos seus pais:

- Ubukhosi. – Continuou Skill. – Chegou à Terra um comunicado da Confederação Galaxial dizendo que Corr Sairy foi detido por vários crimes que não fazem o menor sentido. Entre os piores, assassinato. Desculpe, mas eu conheço Corr Sairy há bastante tempo. Ele pode ser capaz de muita estupidez, mas nunca mataria ninguém. É contra a índole dele.

- Abusarei também de nossa projeção e mostrarei quem está aqui comigo. – Disse Li Kkan. – Posso dizer que, aparentemente, meu ndodana[3] Sw Fitt está incomodado de estar aqui, falando com o pai e a mãe dele. – Do outro lado da projeção, Sw Fitt largou o semblante de transtorno e ficou assustado:

- Não, Ubukhosi. – Disse Skill. – Ele está assim, pois diferente da maioria de nós, ele não acredita que devamos nos importar tanto com Corr Sairy.

- Sw Fitt, meu filho, - falou Elizabeth – pode se retirar, não ficaremos ressentidos. Diferente de você, que está guardando este rancor, que nem sua irmã guarda. – Olhando direto para a mãe e o pai, Sw Fitt saiu da posição de raiva e tentou se prostrar de forma mais nobre possível:

- Bem, - começou Li Kkan – resolvido isso, vamos ao que questionou Major Skill Hawkesley. Também recebemos o comunicado. Como você, acreditamos na inocência de Corr Sairy. Questionamos sobre o crime de sequestro e, aparentemente, o acusador foi o mais recente contratante de Corr Sairy, o Migoto Akonyionn, de Volos VI. Ele havia contratado Corr Sairy para levar Aryannin de volta a Volos VI, mas ele preferiu salvá-la a entregar. Mas, este ponto já resolvemos, pois como vê temos a Megami Aryannin aqui conosco e ela já disse que testemunhará a favor de Corr Sairy. O mais alto ao lado dela foi o verdadeiro sequestrador, o krarrashin Kotharyn, mas ele a libertou, pois sabia da injustiça que estava sendo feita com a Megami. Então decidiu raptá-la para que Aryannin pudesse completar seu ciclo e lembrar de suas encarnações anteriores, algo que ela já vem fazendo (é uma Megami!). Também está conosco a jovem que acusam de cumplice de Corr Sairy, Marcelle Menken...

- Desculpe-me, Ubukhosi. – Obstruiu Skill. – Marcelle Menken? Filha de Thiago e Marcela Menken? Corr Sairy, há muito tempo atrás, a havia libertado, colocando-a em uma cápsula hibernária. Como ela está aí?

- Acredito que seja uma história para outro momento, major Skill Hawkesley. – Respondeu Li Kkan. – No momento devemos nos ater ao que está acontecendo. Esperamos que a Confederação Galaxial marque a data do julgamento de Corr Sairy e, como o convite foi aberto aos líderes dos planetas-membros da Confederação Galaxial, iremos até Thrittan. Me pergunto se o Secretário-geral da Terra recebeu o comunicado para ir ao julgamento.

- Não acredito que isso tenha acontecido, Ubukhosi. – Retrucou Skill. – Recebemos o comunicado, pois H-Kik é membro da realeza de Agufalgav, senão também não saberíamos. Peço que nos permita acompanha-los até Thrittan, para assistirmos ao julgamento e, quem sabe, eu consiga falar com Corr Sairy e saber o que está acontecendo.

- Sim, vocês são bem-vindos. – Disse Li Kkan. – Venha à Phællans e farão parte de nossa comitiva.

- Fico extremamente agradecido, Ubukhosi Li Kkan. – Skill se virou para Sth Nnie e Sw Fitt. – Desejam falar algo para os pais de vocês. – Sth Nnie deu um passo à frente, mas ouviu-se a voz de Sw Fitt, antes dela se pronunciar:

- Me perdoem o desrespeito, ubaba e umama. Não consigo disfarçar meu desgosto por Corr Sairy. – Sth Nnie olhou para ele e depois voltou-se para os pais:

- Sinto muita falta de vocês, ubaba e umama. Que bom, em breve nos veremos e poderemos conversar mais. – E mandou um beijo para eles, de forma amável:

- Vou finalizar a projeção, Ubukhosi Li Kkan, Ubukhosi Elizabeth e Megami Aryannin. – Disse Skill. – Foi um prazer revê-la, Marcelle, espero podermos nos falar mais. E um prazer... conhece-lo, krarrashin Kotharyn. Me despeço.

Com a transmissão interrompida, Ti Kkrus se retirou, deixando todos apreensivos com a comitiva que seguiria para o julgamento de Corr Sairy.

Bem distante dali, em Thrittan, Corr Sairy percebe o corredor acender atrás dele e se levanta para ver o Confederado-mor Stahirr aparecendo em sua frente:

- Confederado-mor Stahirr? Nossa, me senti importante.

- Olá Corr Sairy de Crisyen. Não se sinta, pois isso é uma formalidade. Como o seu caso tem o assassinato do líder de um planeta-membro da Confederação Galaxial, o seu julgamento me terá como julgador, então vim aqui para lhe falar sobre a possibilidade de escolher quem lhe defenderá. Como lhe foi informado você pode alegar inocência dos crimes citados anteriormente e requerer um representante entre os Confederados ou àquele que lhe aprouver, desde que seja de um planeta-membro da Confederação Galaxial e conhecedor das Leis da Confederação. Se desejar, poderemos lhe indicar alguém de relevância...

- Eu vou alegar inocência e já tenho uma ideia de quem poderia me defender. – Corr Sairy interrompeu Stahirr.

- Que bom. Pode me dizer o nome que o chamarei e lhe falarei sobre o processo.

- Eu escolho a Chefdiplomat Sharan de Thrittan.

- Sharan de Thrittan? Por que escolhe a nossa Chefdiplomat? – Questionou Stahirr, incrédulo, mesmo que suas feições não demonstrassem. Como é um ser composto totalmente de energia e convive com outros membros da Confederação, ele precisa usar um traje de isolamento. O traje lhe dá uma forma humanoide, que possibilita uma melhor aceitação pelos seus comuns, mas, diferentemente de outros Thrittanis que escolheram cores mais claras para seus trajes, Stahirr preferiu uma tonalidade mais escura:

- Eu a conheci durante a Guerra de Crisyen. Apareceu em uma das cidades satélites com o intuito de negociar uma paz e conseguir a liberdade e o retorno do trono para Thyth Annis, mas Brann Dawh, o Usurbildarra, não pretendia isso. Foi uma pena, pois sua Chefdiplomat é boa de papo. Acredito que ela será muito boa na minha defesa.

- Você conhece o problema do nosso spark? Que somos considerados impróprios, principalmente por causa de Stahokk.

- Não gosto de mentiras então sim, eu conheço a história de vocês três. Quando conheci a Chefdiplomat Sharan de Thrittan pela primeira vez, me impressionei com sua forma de argumentar que decidi pesquisar por ela e descobri a histórias de vocês. Mas isso a torna ainda mais valorosa, pois demonstrará determinação, se me achar inocente. – Stahirr olhava de forma incrédula em tudo o que Corr Sairy falava, mas não poderia negar a ele sua escolha:

- Está bem, Corr Sairy. Se a Chefdiplomat Sharan de Thrittan é sua escolha, eu a avisarei. Após ela confirmar se aceitará ou não o seu caso, decidirei quando ocorrerá o julgamento. – E se retirou, deixando Corr Sairy, novamente, sozinho.


[1] Akraba = relativo

[2] indlu yezincwadi = biblioteca

[3] Ndodana = filho

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Custódia

Ja Kris conhecia Corr Sairy de tempos atrás, quando o ajudou na sua recuperação em Phællans. Sem contar que era casada com uma das pessoas mais geniosas que conhecia no seu planeta, o Confederado Pan Rrar. Exímia guerreira sabia manter a calma diante das piores situações, das mais caóticas as mais ridículas. E, para ela, aquela reclamação de Corr Sairy era a segunda:

- Se você parar de tagarelar e nos seguir, logo, o Portal não ficará aberto mais tempo. Estudos feitos pelo próprio Lyn Xus já mostraram que as Fendas Hipertemporais são totalmente fechadas, sem deixar fissuras. E é por isso que somente kelkzerrins podem fabricá-los, pois eles mantêm a configuração. Ou você anda fabricando, também? – Corr Sairy sentiu o tom irônico de Ja Kris naquelas últimas palavras.

Corr Sairy, por vezes, questionou Lyn Xus a respeito das Fendas Hipertemporais e quando ajudou a Illuminus Hannia e sua irmã Luannia a colocar ordem nos dois lados do Sistema KellDesh, verificou que os testes eram feitos com precisão e sem falhas. Mas, mesmo assim, ficava temeroso.

S.E., obedecendo ao pedido de Ja Kris, se colocou ao seu lado e passaram pela Fenda Hipertemporal, chegando ao Sistema Vertus, o mais próximo possível de Thrittan. Quando a fenda se fechou atrás deles, uma nova nave juntou-se a eles e Corr Sairy a reconheceu de imediato, era Antares:

- Escoltarei com vocês o criminoso Corr Sairy, Umholi omkhulu Ja Kris de Phællans, se me permitir! – o Confederado disse em uma transmissão que sintonizou com Ja Kris e Corr Sairy.

- Não vejo por que não, Confederado Antares. – Ja Kris respondeu.

- Ficou chateado com o Campo de Contenção, Confederado Antares? – Brincou Corr Sairy, mas antes Antares bloqueou a transmissão. – É, acho que ficou chateado.

Ao entrarem na atmosfera de Thrittan, S.E. chegou a tremer com as descargas de energia eletrostática que o atingiram:

- Sério, está fazendo cócegas. – Ele reclamou com Corr Sairy. Abaixo dele e das naves dos representantes phællansis abriu-se uma comporta que os levou a um hangar hermeticamente isolado. Assim que pousaram, uma mensagem foi comunicada à Corr Sairy:

- Corr Sairy de Crisyen, você está detido pela Confederação Galaxial pelos crimes de: Transporte ilegal de Materiais e pessoas, ferindo o artigo 13 da Lei da Confederação Galaxial; Sequestro de governante, membro ou representante de um governo dos planetas-membros da Confederação Galaxial, ferindo o artigo 5 da Lei da Confederação Galaxial; Mercenarismo, ferindo o artigo 54 da Lei da Confederação Galaxial; Assassinato de um governante, membro ou representante de um governo dos planetas-membros da Confederação Galaxial, ferindo o Artigo 4 da Lei da Confederação Galaxial. Você pode alegar inocência dos crimes aqui citados e requerer a Confederação Galaxial um representante entre os Confederados ou àquele que lhe aprouver, desde que seja de um planeta-membro da Confederação Galaxial e conhecedor das Leis da Confederação. Você ficará confinado em uma cela com total isolamento e impossibilitado de comunicação com o Anima Mundi ou uso do seu chip neural, que ficará restrito ao tradutor omniversal. Um traje lhe será fornecido para que não sofra com o ambiente energizado de Thrittan. Você deverá usar o capacete do traje até a sua cela, que estará harmonizada para se sentir ambientado. No dia e momento do seu julgamento, lhe será fornecido um respirador portátil que deverá usar o tempo todo. Caso seja julgado culpado dos crimes citados, você será enviado, dependendo de sua culpa, para o Satélite-prisão, aonde ficará encarcerado, ou para a cadeia de asteroides que são mantidos prisioneiros com possibilidade de soltura, com suprimentos o suficiente para o tempo que permanecer lá. Caso tenha alguma dúvida, por favor fale agora...

- Quando eu cometi o crime de sequestro de governante? – Corr Sairy questionou a imagem que estava sua frente.

- O crime de sequestro de governante, membro ou representante de um governo dos planetas-membros da Confederação Galaxial, que fere o artigo 5 da Lei da Confederação Galaxial, foi cometido quando retirou a Megami Aryannin do planeta Volos VI acompanhado de uma jovem sem nome e raça citados e de um krarrashin sem nome citado. Seus cúmplices estão sendo buscados para serem julgados pelo crime. Conhece o destino deles? – Disse a projeção. Corr Sairy então pensou que o Migoto Akonyionn o acusara e deu um sorriso com isso:

- Aonde está o traje, então? – Ele questionou.

- Antes precisamos da confirmação que entendeu as acusações e os termos de sua permanência em poder da Confederação Galaxial?

- Sim, entendi. – A projeção desapareceu e, enquanto Corr Sairy se despia de seus trajes costumeiros, S.E. lhe comunicou que alguém o esperava do lado de fora. Autorizada a entrada da pessoa, o Confederado Antares apareceu na frente de Corr Sairy com seu traje:

- Eu o levarei até sua cela. – Disse Antares com sua voz calma e sem semblante de estátua.

- Sério, Antares, não fique com raiva do Campo de Contenção. Se eu não fizesse aquilo, não teria conseguido fazer o que precisava antes de ser enjaulado. Espero que não role ressentimentos. – Antares não disse nada para Corr Sairy. Somente o observou colocar as braçadeiras e ver o traje gerar em volta do corpo daquele homem de estatura mediana. Quando Corr Sairy colocou o capacete e este se uniu ao traje, ambos saíram do interior de S.E.:

- A partir de agora, seu acesso ao chip neural será restrito somente para o sistema de tradução omniversal. – Disse Antares. – Você entendeu esta parte? – Corr Sairy sacudiu a cabeça em afirmação, mas ele tentou se comunicar com S.E.:

- “S.E., você está aí?” – Ele questionou e a resposta veio de imediato:

- “E aqui ficarei. Ainda bem que seu chip neural não segue a configuração dos outros”.

- “Esta é a vantagem de ter sido o criador dele, eu conheço o que e como mexer nele”. – E Corr Sairy seguiu aquele enorme homem escarlate.

O hangar dava direito em um elevador que ele e Antares entraram. Sem precisar apertar nenhum botão ou pronunciar qualquer coisa, ambos começaram a descer. Nenhuma palavra foi trocada entre os dois. Quando pararam e as portas abriram, um corredor se acendeu a frente deles, dando para vários cubículos em ambos os lados, mas evitando ficarem um de frente para o outro. Todos estavam vazios:

- Vocês estão com pouco casos de crimes ultimamente. – Brincou Corr Sairy com o homem cor de rubi ao seu lado. Corr Sairy precisava olhar para cima para ver a cabeça reluzente de Antares. Eles pararam diante de uma das celas e esta se acendeu. Antares apontou para Corr Sairy entrar e ele o fez:

- Já pode retirar o capacete. – Corr Sairy encostou nele e este se descolou do traje. – Agora eu lhe pergunto, pois estamos aqui sozinhos, por que me mostrou tudo aquilo? – Corr Sairy se espantou que, mesmo com a voz soando de forma calma, Antares parecia consternado. – Eu não me importo com meu passado, pois foi há muito tempo atrás. E a situação que citou, de tão hipotética, é estúpida.

- Pode ser. Mas eu só decidi colocar alguns pingos nos is... já ouviu isso? Sua história se assemelha muito com a história de Julius Asimov, então me baseei em uma teoria hipotética de viagem temporal causada por uma tempestade na Estrela Antares, que pode ter gerado um mini buraco negro, que levou Julius para um passado remoto. As duas palavras que você pronunciou foram “Antares” e “Mæsttra” (ou foi o que eles entenderam), então a única coisa que fiz foi fazer uma relação com as histórias. Mas podem haver outras possibilidades. Só que, pense bem, não é muito estranho isso tudo? – Antares ficou admirando o raciocínio daquele homem de tapa-olho, calvo e com a barba grisalha. Por mais insana que parecesse aquela teoria, parecia ter sentido, mesmo que sem sentido algum. Ele não poderia ser um terrano que viajou até o passado e foi encontrado pela Confederação no Primeiro Período Exploratório... e por que seu passado lhe importava tanto agora. Viveu todo este tempo sem pensar nisso e agora, aquele homem caolho, cuja estatura batia no seu ombro, lhe despertara este fascínio. O que estava acontecendo?

Antares se retirou, deixando o questionamento de Corr Sairy no vácuo. Quando as luzes do corredor se apagaram, Corr Sairy voltou a chamar S.E.:

- “E aí, como estão às coisas por aí?”

- “Tranquilo”. – Respondeu S. E. – “Ainda não vieram me examinar. Você passou por um escaneamento no elevador. Acredito que nem percebeu, não é?”

- “Sério? Eles são bons mesmo. Mas não tinha nada para descobrir, pois o chip neural ainda tem o mesmo número de série que tinha quando eu vivia na Terra. Configurações do mainframe não podem aparecer em scanners, pelo menos não essas. Onde eu estou?”

- “Bem, pelo que eu posso verificar no mapeamento desta base, você está há uns 300 metros abaixo do solo de Thrittan. O isolamento é fenomenal e a nossa comunicação pode falhar às vezes, mas nada que não seja possível retomar, por causa da nossa frequência”.

- “Ainda bem que você pensou nos percalços da atmosfera daqui”.

- “Pois é. Thrittan é um planeta energético, se assim posso chamar. Seria impossível para um ser de carbono ou outro elemental viver lá fora. A forma de procriação deles se assemelha dos Dommæns, unicelular, que eles chamam de ‘spark’ – na melhor forma de tradução possível – e cada um pode gerar dois Thrittanis, mas, incrivelmente e de forma rara, o spark que gerou Stahirr e Stahokk, também gerou Sharan. Ou seja, foram gerados três de um mesmo spark, o que eles chamam de ‘caso raro’ e, por isso, Stahirr tem grande importância para os Thrittanis. A forma de governança deles é por um Ratder Ausbilder[1], dizem que foram os primeiros. Stahirr não pode fazer parte por causa deste caso raro, mas aceitaram que ele assumisse o cargo de Confederado. Já Sharan se tornou Chefdiplomat[2] de Thrittan (ou seja, uma líder em diplomacia Thrittanis), buscando a conciliação dos planetas, então ela viaja dando conselhos, não participando de batalhas. Este cargo dela, antes pertencia a Stahokk, mas este se voltou contra a Confederação Galaxial e criou um grupo de renegados, pessoas insatisfeitas com a forma de atuar da Confederação Galaxial. Entre os membros destes renegados estavam Ikken Bergg, de Callyns, Davith Hitarr, de Bhlokyonss, e...”

- “K’rynn Swiss, de Dharkyens”. – Disse Corr Sairy, de forma triste. E continuou. – “Eu conheço Sharan. Ela foi a Crisyen como Friedensberater (um tipo de conselheira de paz dos Thrittanis). Ela é boa, mas nada faria aquele desgraçado devolver o trono de Crisyen. Queria poder saber mais sobre o caso destes renegados, mas não acho seguro acessar o Anima Mundi. Nem você deve fazer isso, entendeu? Não devemos chamar atenções desnecessárias”. – E um silêncio se fez. Corr Sairy acreditou que a ligação deveria ter sido cortada, pois S.E. falou desta possibilidade.

O silêncio era enlouquecedor, mas Corr Sairy preferiu deitar-se e descansar, pois ele tinha certeza que, em breve, as visitas começariam.



[1] Ratder Ausbilder (Rat Der Ausbilder) = Conselho de Formadores

[2] Chefdiplomat = Diplomata-chefe

quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Os Gêmeos

Em Thrittan, o Confederado-mor Stahirr recebe um chamado de Antares:

- Confederado-mor Stahirr, Confederado Antares se reportando, referente a captura do mercenário Corr Sairy...

- Continue, Confederado Antares.

- Confederado-mor Stahirr, Corr Sairy escapou e não sei aonde ele pode estar. Ele me ludibriou e fui capturado em um campo que ele chamou de Campo de Contenção. Ele desapareceu em uma Fenda Hipertemporal que eu não consegui rastrear.

- O mesmo ocorreu com a alakaʻi dos representantes de Vulcallo, Risan Cloniech, e sua tropa. Eles foram contidos em um Campo de contenção no quadrante nove da Estrela-anã Mokhitra. De acordo com Risan Cloniech, Corr Sairy estava com três passageiros, pelo escaneamento térmico que fez antes de ser contida. Confirma a informação.

- Sim. Fui até Volos VI e falei com o Migoto Akonyionn. Aparentemente, Corr Sairy e uma outra passageira ajudaram um krarrashin a sequestrar a Megami Aryannin. O Migoto pediu-nos para registrar mais este crime de Corr Sairy, sequestro da Megami Aryannin que é uma clara quebra do artigo 5 da Lei da Confederação Galaxial, já que Aryannin é o ponto máximo a governança do planeta e necessitava ser sacrificada, de acordo com a tradição.

- Incluirei este crime, também, aos demais. O acusado Corr Sairy lhe disse mais alguma coisa, Confederado Antares? – Antares pensou em informar ao Confederado-mor Stahirr sobre o que Corr Sairy o havia contado, a respeito de sua história, mas achou irrelevante:

- Somente disse que, após fazer algumas coisas que necessitava, me encontraria em Thrittan. Deseja que eu tente rastreá-lo?

- Não acho que seja possível. Com certeza ele deve estar se mantendo distante de qualquer local que possamos identifica-lo e, se possui Fendas Hipertemporais irrastreáveis, não será tão fácil sabermos dele. Volte para Thrittan, Confederado Antares. Com certeza, em breve, teremos notícias dele.

Assim que a transmissão foi encerrada. Stahirr convocou o Confederado da Terra, Victor Cambasi, e seu suplente no cargo de Confederado-mor, o Confederado Goliath Hitarr, de Bhlokyonss. Assim que Victor Cambasi chegou, Stahirr apontou-lhe a cadeira na frente de sua mesa, enquanto Goliath Hitarr se sentava ao seu lado:

- Bem-vindo, Confederado Victor Cambasi. Me fale mais deste Corr Sairy. – Cambasi deu um sorriso lateral de deboche:

- Bem, Corsário era um cientista no planeta Terra, mas assim que sua esposa e filha morreram em um acidente automobilístico, ele voltou à ativa como coronel das Forças Armadas da Terra. A patente ele adquiriu quando serviu ao Corpo de Fuzileiros da Terra. Se graduou em nanotecnologia e era um dos melhores pilotos. Quando adquiriu a patente de coronel, decidiu se dedicar a nanoengenharia ao invés do Corpo de Fuzileiros. Após o falecimento de sua família, ele se reinscreveu e a Força Terra-Espaço o contratou para fazer os serviços de transporte entre a Terra e os planetas da Confederação Galaxial.

- Então a Terra tinha ciência de que... este Corr Sairy fazia os transportes ilegais? – Questionou Goliath Hitarr.

- Não, Confederado Goliath Hitarr. – Respondeu Cambasi, com a testa brilhando devido ao questionamento pertinente. – Enquanto o buscávamos para julgamento pelos seus crimes, descobrimos que sua nave terminou abordada por alguns de seus clientes, creio eu. Ele desapareceu e pensávamos que ele tinha morrido, quando ressurgiu em Phællans. Aparentemente, ele auxiliou os phællansis no transporte de mercadorias para os crisyenos. Não sei como conseguiu que os crisyenos aceitassem ele e lhes dessem este nome, então ele começou a usá-lo. Soube que ele também andou fazendo serviços em Kelkzerr, Agufalgav, Maghnessy (aonde ele praticou o regicídio) e, agora, em Volos VI, que não sei o que fazia lá.

- De acordo com informações, Corr Sairy, junto com uma jovem e um krarrashin sequestraram a Megami Aryannin, de Volos VI, interrompendo seu Gisei. O Migoto Akonyionn pediu-nos para registrar mais esta queixa contra ele. – Informou Stahirr. – Obrigado pelas...

- Ah sim, - cortou Cambasi – existem suspeitas que aquele grupo de renegados e terroristas pensaram em Corsário para integra-los, mas ele estava ajudando os kelkzerrins no estabelecimento de um governo em Desharr.

- Ele se envolve muito nos problemas dos outros, não? – Argumentou Goliath Hitarr. – Mas antes que Cambasi viesse a responder, Stahirr falou:

- Bem, agradeço pela informações, Confederado Victor Cambasi. Se precisarmos de mais informações, o chamaremos. – E Victor Cambasi saiu da sala do Confederado-mor, percebendo que incitara ainda mais a aversão da Confederação Galaxial com Corr Sairy.

Bem distante dali, Corr Sairy despertava, pois eles se aproximavam do sistema Pokaar. Em uma pequena esfera rochosa, percebia-se uma iluminação pulsante e, na medida que S.E. se aproximava do local, quase dava para sentir o calor que vinha daquela iluminação:

- Os Gêmeos capricharam desta vez. – Disse S.E. – Queriam mesmo atrair pessoas para cá.

Como se fosse o centro daquela diminuta esfera que pairava no espaço, estava uma arca espacial. Com quase 4 mil metros, a arca tinha uma aparência incomum, que mais lembrava um ovo. O metal que a revestia era totalmente reluzente e Corr Sairy já comprovara sua resistência, tanto que os Gêmeos lhe indicaram aonde consegui-lo e Corr Sairy o usou para construir S.E.

Assim que pousaram, cabos se conectaram a S.E.:

- Eu amo os Gêmeos. – E uma projeção feminina humana surgiu na frente de Corr Sairy:

- Bem-vindo de volta Corr Sairy. Como bem sabe, para chegar até o ithaveni[1] é necessário que vista seu traje de sobrevivência. Lá dentro, após a harmonização atmosférica que lhe será proporcionada, poderá retirar o traje. Blulb e Glulg estão esperando por você! – Então, Corr Sairy colocou dois braceletes e apertou-os, simultaneamente, fazendo surgiu sobre seu traje formal, um traje de sobrevivência espacial. O traje se conectou as botas de Corr Sairy e selou-o hermeticamente. Ele colocou seu capacete e o traje se acoplou a ele:

- Você ficará bem? – Corr Sairy perguntou, com a voz abafada, dentro do traje.

- Eu já estou bem. – Respondeu S.E., suspirando, como se relaxasse. Corr Sairy então se dirigiu à arca dos Gêmeos. Ao chegar na porta, um minúsculo dispositivo flutuou sobre ele e informou ao seu traje que o ambiente a sua volta estava respirável: “78% de nitrogênio, 21% de oxigênio e 1% de outros gases necessários para sua sobrevivência. Pode desligar o traje”. Ao entrar, retirou o capacete e reparou que o local era iluminado por uma luz dourada e bem viva, não permitindo que as pessoas se escondessem em cantos escuros. Alguns rostos Corr Sairy já conhecia, pois encontrara em outras visitas, já outros eram novos:

- Ora, ora, ora, se não temos Corr Sairy adentrando no bar. – Disse uma voz metalizada, vinda de um homem com a pele arroxeada e que tinha dez olhos azulados. – Fiquei sabendo que estão te caçando, Corr Sairy. De quanto seria a recompensa?

- Acredito que não seja pra você está recompensa, Gottakk. – Respondeu Corr Sairy. – Ainda mais com sua ficha de crimes maior do que a minha... Ah, e como está o Vizir de Thrarkus? Vivo? Lembre-se, aqui é Zona Neutra. Se não quiser aborrecer os Gêmeos é melhor parar com esta ameaça idiota. – E Corr Sairy apontou na direção de uma nano câmera que se aproximava.

Corr Sairy continuou seu caminho até chegar a um balcão extenso, que tinham duas massas acinzentadas e disformes atrás dele. Eles preparavam drinques e este eram teletransportados para as mesas que haviam pedido:

- Corr Sairy, que bom vê-lo – Disse o ser mais próximo do balcão. O outro também se aproximou:

- É, bom vê-lo. O que veio fazer aqui? – Questionou o que se aproximava.

- É, fazer aqui? Veio saber mais do Galaxya?

- É, do Galaxya?

- Vocês sabem o que eu vim fazer aqui. – Corr Sairy disse às duas massas disformes.

- Não podemos atende-lo agora, temos muitas bebidas para servir.

- É, para servir. Espere até o final que o atenderemos.

- É, o atenderemos. Por que não aproveita e bebe algo?

- É, bebe algo. Podemos servir aquele drinque que você ama e diz ter gostinho de casa.

- É, de casa. – Corr Sairy conseguia entende-los, já se acostumara com o jeito de Blulb e Glulg falarem. Como era Dommæns, eram seres que não precisavam se comunicar verbalmente. Eles eram como massas encefálicas ambulantes. Sua comunicação era toda telepática, então quando falavam, pareciam ser ecos, um do outro:

- Eu não tenho tempo para isso. A Confederação Galaxial vai me colocar em uma cela, me julgar e, com certeza, me mandarão para exílio. Eu preciso disso agora. – Blulb e Glulg pararam por um instante se entreolharam. Então Glulg falou:

- Se você será exilado, não cumprirá o nosso acordo.

- É, nosso acordo. Você não estará apto para encontrar o Galaxya.

- É, o Galaxya. Quanto tempo ficará exilado?

- É, ficará exilado?

- Eu não pretendo ficar exilado. – Corr Sairy os respondeu. – Eu pretendo ser inocentado e ir atrás do Galaxya.

- Então, entregaremos a você quando for inocentado. – Disse Blulb.

- É, for inocentado. Até lá, o artefato ficará conosco.

- É, ficará conosco. Quando sair de lá, nos procure novamente.

- É, procure novamente. – Aquilo deixou Corr Sairy frustrado. Ele só tinha ido até ali para pegar o artefato, mas não ia rolar e ele sabia disso. O problema era aonde eles estariam quando ele saísse de lá, pois os Dommæns são nômades. Poucos deles haviam sobrevivido ao tempo. De acordo com as histórias de ambos, eles viram o Universo surgir, ao lado dos Suppærs, uma raça de seres feitos de luz. Enquanto os Dommæns catalogavam as espécies que surgiam no Cosmo, os Suppærs observavam o desenvolvimento de cada uma. Às vezes, eles mesmo criavam as raças que surgiam no Universo. Na história que Corr Sairy ouvira dos Gêmeos, os Dommæns foram responsáveis pela criação dos carbonados, enquanto os Suppærs se envolveram no surgimento dos elementais. Com sua capacidade de reprodução unicelular, eles tinham facilidade de se gerar, mas a constante reprodução os enfraquecia, então, com o tempo, tanto os Dommæns quanto os Suppærs começaram a desaparecer do Cosmo. Mas antes de desaparecerem, os Dommæns haviam criado o Galaxya, um tecnoplaneta vivo, que Corr Sairy ambicionava conhecer.

Saindo da arca dos Gêmeos sem nada, Corr Sairy regressou para S.E.:

- “Vamos embora”. – Ele disse, com uma voz frustrada.

- “Mas eu estava começando a relaxar”. – S.E. respondera, quando percebeu que Corr Sairy foi seguido. – “Tem alguém no seu encalço”. – E um disparo atingiu um campo de energia que S.E. ergueu rapidamente, enquanto Corr Sairy entrava:

-Mas quem pode ser? – E quando uma projeção surgiu a sua frente, ele reconheceu Gottakk. Enviou um comando para que S.E. erguesse um campo de êxtase em volta do assassino. Mesmo que o planeta de Gottakk não fizesse parte da Confederação Galaxial, ele usava um tradutor auricular, que comprou com os Gêmeos, então Corr Sairy projetou uma mensagem para ele. – Então, Gottakk, foi assim que tentou matar o Vizir de Thrarkus? Pelas costas? Bem, eu poderia deixa-lo sem transporte, mas sei que S.E. não é muito a favor de destruição de naves. Sendo assim, deixarei você nas mãos dos Gêmeos, eles decidirão o que fazer com você, pois mesmo que não estejamos no bar, ainda estamos no local que eles escolheram, então você descumpriu a lei dos Gêmeos. Até nunca mais, Gottakk! – E S.E. começou a erguer voo, enquanto pequenos dispositivos vinham da arca dos Gêmeos para carregar o assassino, totalmente congelado, para dentro.

Quando S.E. já ganhava distância, Corr Sairy percebeu um enorme Portal Hiperespacial se abrindo:

- Isso não está certo. – Ele disse para S.E. – Imagine o que uma fenda deste tamanho pode causar ao espaço-tempo?

A fenda não parecia se fechar então ele pediu a S.E. que atingisse uma velocidade maior. Quando chegou perto da tropa phællansi, iniciou contato com Ja Kris:

- Por que uma fenda deste tamanho? – Disse, com a voz sobressaltada. – Não estava com pressa para ir. Esperaria tranquilamente vocês chegarem. Uma coisa deste tamanho pode ser muito prejudicial.


[1] Ithaveni = taberna

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Fugindo

Quando S.E. entrou no sistema Volos, logo os sistemas identificaram a nave e correram para informar o Migoto Akonyionn:

- Migoto, uma nave sem identificação adentrou em nosso sistema estelar. Creio que seja o Corr Sairy. – Uma luz piscou no pulso do vigia. – Ele está querendo fazer contato.

- Transfira a chamada para cá. Enquanto isso, se comunique com a Confederação Galaxial e peça para o Confederado Antares vir imediatamente. – O vigia então transferiu a chamada e a forma holográfica de Corr Sairy surgiu a frente do Migoto Akonyionn:

- Migoto Akonyionn, como prometido, volto com o que requereu.

- Preciso saber se cumpriu com o que combinamos. Preciso ver a Megami e o krarrashin. – Requereu o Migoto, e a projeção de Corr Sairy parecia caminhar dentro da nave até o fundo, onde estavam paralisados como pedras Aryannin e Kotharyn:

- Eu sempre cumpro o combinado e não gosto muito de mentiras. Antes de pousarmos, peço que faça a transferência dos 50 créditos restantes, pois não pretendo ficar muito tempo. Parece que a Confederação Galaxial deseja minha presença e eu preciso fazer mais duas coisas antes de me entregar. – As palavras de Corr Sairy surpreenderam o Migoto que pensou em ele sabia, mas ele providenciou a resposta. – Quando estávamos a caminho, fui abordado pelos representantes de Vulcallo. Acredito que eles não sejam os únicos desejando me prender, antes de eu me entregar. Então faça a transferência, senão iremos embora. – O Migoto ficou sem reação, mas pensou que, após Corr Sairy ser preso e encarcerado pela Confederação, ele poderia requerer a devolução dos valores. Dessa forma, transferiu o valor que restava:

- Transferência efetuada.

- Espere. – Corr Sairy parecia conferir a transferência e, algum tempo depois, respondeu. – Está tudo certo. Esteja à espera de sua Megami e o krarrashin no campo de recepção. Temos pressa! – Assim que a comunicação se encerrou, o Migoto viu o vigia na porta de sua sala:

- Então? Conseguiu se comunicar com a Confederação Galaxial?

- Sim, Migoto. – Disse o vigia. – Eles disseram que já estavam comunicando com o Confederado Antares. Ele deve chegar dentro em breve.

- Então teremos que segurar Corr Sairy por mais tempo por aqui. Preciso de uma tropa armada para intercepta-lo no campo de recepção. – E o Migoto saiu para ir de encontro com Corr Sairy. O que ele não esperava é que Corr Sairy tinha outros planos.

Antes de chegarem ao espaço de detecção do sistema Volos, Corr Sairy tinha feito seus próprios planos:

- Bem, é hora de planejarmos. – S.E. e Marcelle não entenderam nada. – Como eu tinha dito, tudo ao seu tempo. Como você me disse, S.E., Migoto Akonyionn está me aguardando para se comunicar com o Confederado-guerreiro Antares. Assim ele deve tentar me segurar no planeta para que o Confederado chegue e me leve. Então, o que farei será pedir que faça a transferência dos créditos...

- Mas isso não adiantará. Pelo que eu te conheço, você cumprirá com sua palavra e levará Aryannin e Kotharyn até Volos VI, para a entrega. – Replicou S.E.

- Sim, levarei para a entrega. – Corr Sairy repetiu. – Mas existe um atenuante nisso tudo, que, no momento certo será revelado. S.E., quero que você monitore, novamente, as comunicações de Volos VI, pois assim teremos certeza do tempo que teremos até a chegada de Antares.

Então, após entrarem no espaço de detecção, o plano se iniciou. Enquanto Corr Sairy negociava a transferência, S.E. monitorava as comunicações e recepcionou a conversa entre o vigia de Volos e a Confederação:

- “Estou falando em nome do Migoto Akonyionn. Ele pediu para entrarmos em contato, pois o assassino Corr Sairy de Crisyen entrou em nosso espaço e está a caminho de nosso planeta. Ele sequestrou nossa Megami, com a ajuda de um krarrashin, e veio negociar o resgate”.

- “Informaremos de imediato ao Confederado Antares. Ele deverá chegar em breve, pois está bem próximo de vocês. Segure-o o quanto puder”. – Quando S.E. ouviu Corr Sairy falar “Espere”, logo transmitiu a comunicação para seu companheiro e, através do chip neural, Corr Sairy lhe disse:

- “Transfira o valor para Crisyen e liberte Aryannin e Kotharyn do Campo de Êxtase”. – Ele sabia que era o momento chave do plano.

Quando iniciaram o pouso, Corr Sairy, S.E., Marcelle, Aryannin e Kotharyn notaram as tropas volosis esperando-os:

- O que faremos? – Questionou Kotharyn.

- Vocês? Nada. – Disse Corr Sairy. – Megami, preciso que você finja. – Aryannin olhou para ele descrente. – Sei que você não sabe ainda quem é ou mesmo tem conhecimento de toda a extensão de suas vidas passadas, mas, neste momento eles precisam acreditar nisso. E, se eles acreditarem, temerão você.

Aryannin teve dificuldades para compreender o que aquele homem de tapa-olho desejava:

- Você quer que eu tente ludibriar àqueles que me adoram, fingindo já ser quem eu não sou? – Aryannin questionou. – Sendo que, eu nem sei quem sou?!

- Olha, enquanto você está tentando descobrir quem é, a maioria de nós tem um conhecimento parcial. Se, nesta fase você conseguiu se transformar em luz e detonar uma nave mãe do Domminon, possivelmente existe a possibilidade de ter um conhecimento disso. Então, tudo que eu peço é que fale as palavras que S.E. enviará para seu chip neural e o resto deixe com ele. – Mesmo incrédula, Aryannin balançou a cabeça em confirmação.

Assim que S.E. abriu sua porta lateral, uma tropa da guarda volosi os esperavam, armados. Atrás deles pode-se ouvir a voz do Migoto Akonyionn:

- Corr Sairy de Crisyen, em nome da Confederação Galaxial, o planeta Volos VI o detém até a chegada com Confederado Antares, que lhe levará a Thrittan para ser encarcerado e julgado pelos crimes de transporte ilegal, mercenarismo e assassinato do Maghnussy de Maghnessy. Renda-se de forma pacífica.

- “É hora do show!” – Comunicou Corr Sairy à S.E. Então, este circundou Aryannin com um campo antigravitacional que a retirou da nave, flutuando e enviou ao chip neural dela palavras que ela pronunciou de forma gutural:

- Déspota! Ousas provir ameaças e desejas meu mal. Tentas obter-me para o Gisei! Ameaças àqueles que jurei proteger e dar-lhes Morada! Não mereces o cargo que ocupa e pagará por isso! – S.E. mapeou uma falha no solo, próximo a plataforma de pouso que se encontrava e disparou um campo de energia, expandindo-o para que causasse leves tremores, assustando o Migoto e a tropa volosi, que achavam ser Aryannin a responsável por aquilo. Então, com a voz trêmula, Akonyionn disse:

- Seinaru Megami, entendeste mal. Só a queremos para a segurança de nosso planeta! – A farsa continuou e S.E. enviou a seguinte frase para Aryannin, que a pronunciou:

- Ousas me questionar? Tu não pensas na segurança de nosso povo ou planeta, mas sim no teu cargo que tua família tomaste e administra sem minha autorização. Deveria eu destruir a ti e a todos pelos erros que cometeram comigo e refazer tudo, novamente. – Os volosis largaram as armas que portavam, se ajoelhando e curvando diante da Megami, enquanto Akonyionn se ajoelhava diante de Aryannin e seus olhos enchiam de lágrimas. – Tua família tirou dos krarrashins aquilo que eu lhes dera. Tua família tomou fortuna e poder que pertencem a todos. Por que devo poupa-los, principalmente você? Responda-me! – Akonyionn temia a resposta, mas tentou:

- Perdoai-nos, louvada Aryannin. Poupai-nos por nossos atos. Meus ascendentes erraram ao subjuga-la e aos krarrashins. – E curvou a cabeça, como os soldados volosis. Aryannin sentia pena daquelas pessoas, mas continuou a pronunciar as palavras que S.E. lhe enviava:

- Ir-me-ei com meu captor e retornarei com aqueles que darão valor aos krarrashins, possibilitando-lhes real justiça... me perdoem! – As últimas palavras de Aryannin não haviam sido enviadas por S.E., pois ela falava do próprio coração e, então, Akonyionn percebeu o ardil a olhar nos olhos enormes e escuros da Megami e perceber lágrimas se formando:

- É um embuste! – Ele gritou aos soldados que tomavam conhecimento que haviam sido enganados. – Tomem suas armas. Não podemos permitir que eles fujam. – Mas antes de qualquer ação, S.E. recolheu Aryannin e disparou um campo de êxtase em volta dos senshi[1] volosis e do Migoto Akonyionn:

- Sabe o que é pior do que uma mentira, Migoto? – Uma projeção holográfica de Corr Sairy surgia à frente de Akonyionn e seus homens, totalmente inertes e impossibilitados de resposta ou ação. – Uma traição. Vocês me pediram um serviço e pretendiam me entregar de bandeja à Confederação Galaxial, sendo que, nem têm certeza se meus atos foram os que me acusam. Não sou muito fã de traições. – Disse, apontando para seu tapa-olho. – E, como não cumpriu a sua parte no trato, não tenho que cumprir a minha. Desta forma, tô indo e levando a Megami e o grandão comigo. Espero nunca mais nos esbarrarmos. – S.E., então, levantou voo e logo alcançou o espaço:

- Ele já está aqui! – S.E. disse para todos dentro dele. Uma nave de um vermelho brilhante surgiu diante deles. Ela não parecia tão ameaçadora, mas eles sabiam que em seu interior estava uma grande ameaça. – Ele quer falar conosco.

- Projete. – Pediu Corr Sairy à S.E. E a imagem de um enorme homem de vermelho cintilante, trajando o uniforme de um confederado, é projetado na nave:

- Corr Sairy de Crisyen, por ordens da Confederação Galaxial eu o detenho pelos crimes de transportes ilegais, mercenarismo e assassinato do Maghnussy de Maghnessy. Coloque sua nave emparelhada à minha e eu o levarei até Thrittan, aonde será julgado e condenado pelos seus crimes.

- Peraí. – Disse Corr Sairy. – Já serei condenado? Não terei direito a uma defesa, pelo menos? – Antares, em pé no interior de sua nave olhava a projeção daquele terrano de estatura média, com a cor de pele de um bronze escurecido, que o olhava com um olho somente, não compreendendo seu questionamento:

- Todos têm direito à defesa. – Respondeu Antares.

- Ah tá. – Disse Corr Sairy. – Pensei que iriam tirar este direito de mim. Pois eu tenho provas contra todas as acusações. – Antares não acreditou nas palavras de Corr Sairy, mas mesmo assim disse:

- Se têm provas, poderá apresenta-las. Estas serão submetidas a verificações e, se forem verdadeiras, serão aceitas em sua defesa.

- Sério. – Disse Corr Sairy em um tom de deboche que Antares não percebeu. – Que bom que a Confederação Galaxial leva à justiça a sério. – Em contato com Corr Sairy, S.E. falou-lhe:

- “Só temos o problema do assassinato do Maghnussy”. – Corr Sairy não lhe respondeu de volta (e nem precisava, ele sabia que era verdade) e então a projeção de Antares voltou a dizer:

- Emparelhe sua nave à minha e eu o levarei a Thrittan para ser julgado.

- Antares. – Corr Sairy disse, como se ignorasse as ordens do confederado. – Confederado-guerreiro Antares. O terror da Confederação Galaxial. O executor de Ikken Bergg, de Callyns. O salvador da democracia galáctica. Você é bom, sabia? – S.E. sabia que Corr Sairy estava enrolando, mas os outros que estavam no seu interior não tinham a mínima ideia do que o caolho estava fazendo. – Então, fiz uma breve pesquisa sobre você. “O asteroide onde ele foi encontrado era os restos mortais de um possível planeta cujo nome seria Mæsttra”. Sabe o que é mais estranho quanto a esse nome? Ele se assemelha a outro nome, Maestro, mas não era um planeta. Você já ouviu o nome Julius Asimov? Se quiser, te dou um tempo para uma pesquisa. – O semblante sorumbático de Antares não aparentou mudar. – Não? Está bem, então eu lhe falo. Julius Asimov era um pioneiro. Eu era fã dele! Quando ele tomou a decisão que a Terra precisava cruzar a fronteira do seu sistema estelar, todos achavam que ele havia enlouquecido, mas ele apresentou o projeto Odisseu. Então com apoio de várias corporações mundiais que desejavam ir além dos planetas do sistema estelar Sol, explorando outros sistemas próximos, ele iniciou a construção da nave Maestro. Lógico, até chegar à nave que ele viajaria, foram feitos vários testes. Mas, em outubro de 3510, Ano da Terra, Maestro V partiu da Estação Espacial Hermes I, que orbitava Saturno. Só que, depois disso, ele desapareceu. Tempos depois – pouco tempo para a contagem de tempo da Confederação Galaxial, mas muito tempo para a Terra – foram localizados os restos de Maestro V em um asteroide que circundava a Estrela Antares. A expedição para localizar estes restos foram coordenadas por Lyn Xus, usosayensi omkhulu[2] de Phællans (um tipo de médico e cientista-chefe deles) – acho que você já ouviu falar –, e eu tive o prazer de participar da expedição. O mais intrigante é que não localizamos os restos mortais de Julius Asimov. Lyn Xus presumiu que ele tinha virado pó estelar, pois existiam rastros de radioatividade estelar no metal da nave, mas tinha um outro problema, o tempo que a nave estava naquele asteroide parecia mais antigo do que o tempo que deveria estar, como se os restos da nave tivessem sofrido um lapso temporal, ou seja, viajado no tempo.

- “De onde você tirou essas informações? Eu não te passei isso!” – Questionou S.E. a Corr Sairy.

- “Eu me lembrei”. – respondeu Corr Sairy. – “Só precisava do gatilho para me lembrar disso. E o gatilho foram as informações sobre Julius Asimov no Anima Mundi”.

O semblante de Antares parecia imutável, como se nenhuma daquelas informações o afetassem, mas Corr Sairy continuou:

- Então, Antares, pense comigo. Você veio de um asteroide que a Confederação Galaxial acreditou ser os restos de um planeta chamado Mæsttra, pois era uma das poucas palavras que você pronunciava. Do sistema estelar Sol, em meados do século XXXVI, contagem da Terra, saiu uma nave com o nome Maestro V, com destino ao sistema estelar Antares. Possivelmente, isso é hipotético, a nave de Julius Asimov pode ter sido tragada por um miniburaco negro, causado por uma tempestade estelar de Antares, lançando-o em um lapso temporal. Sem mais delongas, você seria Julius Asimov... ou algo semelhante a isso. – Corr Sairy olhava para os olhos rubros de seu provável carcereiro e percebeu uma pequena, uma micro-mudança no brilho daquele olhar impassível, “ele entendeu”, Corr Sairy pensou.

Enquanto Corr Sairy falava, Antares usava ao máximo seu chip neural, examinando cada detalhe que o crisyeno falava. Ele encontrou a semelhanças entre os nomes que a Confederação criou para seu planeta com a nave de Julius Asimov. Ele verificou que em K-Rarr 13, ele fora localizado com amnésia naquele asteroide durante o Primeiro Período Exploratório da Confederação Galaxial e, em K-Rarr 833 Phællans enviou uma expedição para localizar restos da nave Maestro V e, quem sabe, localizar os restos mortais de Julius Asimov. Ele localizou os registros de Lyn Xus a respeito da possível causa mortis de Julius Asimov. E, quando Corr Sairy lhe disse que ele poderia ser o cosmonauta terrano, algo acendeu dentro de si.

Antares, quando fora encontrado por Stahirr, Mas Htims, Dav Annon, Bavan Sheys e Goliath Hitarr, no Primeiro Período Exploratório da Confederação, tentou por vezes se lembrar de quem era e o que lhe acontecera. Mas passou-se o tempo, e ele desistiu de tentar se concentrando em seus afazeres como membro daquela associação que o recebeu. Até aquele exato momento, não lhe importava nenhuma informação a respeito do seu passado... “Como Corr Sairy acendeu isso novamente em mim?”, ele se questionou. De repente, uma luz brilhante tomava sua nave. Ele se distraíra e Corr Sairy aproveitou-se disso:

- O que está fazendo? – Antares questionou. – Mentiu para mim e agora tentas me deter?

- Olha. – Retrucou Corr Sairy. – Eu posso ser um mercenário (como vocês afirmam), ter feito transportes ilegais de armas, suprimentos e pessoas (como a Terra deve estar alegando), mas têm duas coisas que não sou e nunca serei, assassino e mentiroso. Sei que consultou o Anima Mundi para conciliar minhas informações e viu que tudo casa, então não lhe contei mentiras. Mas, eu não posso ir agora para a Confederação Galaxial. Tenho umas coisas para fazer antes e, depois (eu prometo), comparecei para ser inquerido e julgado. O campo em volta de sua nave é um campo de contenção. Este campo tem o costume de ser bem resistente e expansivo a qualquer disparo na intenção de dispersá-lo. O tempo que ficará em volta de você será o suficiente para nos mandarmos daqui. Então, até daqui a pouco, Antares. Nos veremos em Thrittan, dentro em breve.

Com esta despedida, Corr Sairy pede que S.E. abra uma Fenda Hipertemporal e se encaminham para um local distante do sistema Volos. Com a fenda se fechando assim que S.E. passa, Antares se encontra impossibilitado de os localizar.

Instantes depois, S.E. saía a uma pequena distância do quinto planeta daquele sistema estelar de uma estrela laranja:

- Odeio isso, - disse Corr Sairy – mas foi necessário. Bem-vindos ao sistema K-Rarr.

Marcelle Menken pensou no nome que Corr Sairy falava e uma quantidade de informações foi-lhe passada:

“K-Rarr é um sistema estelar com uma estrela de grandiosidade 4 na Escala Menken, K-Rarr. O sistema é composto de oito planetas, sendo o quinto, Phællans, habitado pelos phællansis. Devido às viagens estelares dos phællansis, a Confederação Galaxial – antes Confederação Vertusi – pode ampliar seus negócios. Sendo assim, a contagem de tempo dos phællansis foi considerada como a ideal para a Confederação Galaxial”, e Marcelle continuou:

“Phællans é o quinto planeta do Sistema K-Rarr. O planeta tem um ambiente rico de fauna e flora e a composição da atmosfera planetária se assemelha a de planetas como Agufalgav, Crisyen, Kelkzerr, Maghnessy, Prismus, Terra e Thrarkus. Seus habitantes vivem sobre um regime político de soberania parlamentarista, cuja figura do Ubukhosi[3] é a superior. Ele governa e determina aos seus parlamentares, que são escolhidos nas cidades-estados do planeta, que as leis sejam cumpridas pelos ministros que cada cidade-estado possuí”.

“Além de um sistema estelar e o nome de uma estrela de grandiosidade 4 da Escala Menken, K-Rarr também é a contagem de tempo oficial da Confederação Galaxial. Um K-Rarr corresponde a uma translação do planeta Phællans em torno da estrela. Cada K-Rarr é dividido em cinco rarrs, e cada Rarr é divido em 73 arrs. O sistema foi adaptado para cada planeta da Confederação Galaxial, mesmo que se diferencie. Por exemplo, em comparação com o planeta Terra, um K-Rarr corresponde a, aproximadamente, dez anos terranos (buscada a semelhança ao seu planeta natal). Muito viajantes, para não causar confusão aos planetas da Confederação que visitam preferem não usar contagem de tempo, mas a própria Confederação Galaxial, no planeta que se localiza, usa K-Rarr como sistema de contagem”.

- Está surpresa? – Corr Sairy perguntou a Marcelle, como percebesse a pesquisa que fizera.

- Nunca poderia imaginar algo assim. – Disse Marcelle. – Qual o ano que a Terra está agora?

- Se formos contar no tempo da Terra, seria o ano de 5720 D.C. Mas, se colocarmos a Terra na contagem da Confederação, ela está em 1026 k-rarrs...

- 1026? – Questionou Marcelle, em dúvida. – Mas não seria 572 k-rarrs?

- Antes da conversão ao calendário gregoriano, já existia a Terra. As primeiras civilizações datavam de mais de quatro mil anos antes. Mas, no calendário de K-Rarr estamos em k-rarr 1070.96 – Marcelle não demorou muito para entender. Mas nem Aryannin e Kotharyn entenderam do que eles falavam. De repente, sem falar nada, a projeção de um ser que lembrava um felídeo surge no interior de S.E.:

- Corr Sairy, Lyn Xus o saúda e pede que pouse Águia de Aço na plataforma 15. Ele avisará o Ababusi[4] Li Kkan e Elizabeth da sua chegada. Ele pede que, como é procurado, mantenha o sistema de comunicação nesta sintonia para não ser interceptada. – E a projeção sumiu, S.E. disse:

- Acho que você vai levar um esporro. – Todos se sentaram e prepararam para a reentrada. Logo depois a nave pousava em uma plataforma flutuante em meio a um ambiente próspero. Ao saírem de S.E., viram uma comitiva vindo em sua direção, liderada por um enorme homem felídeo, de cabelos longos e cor de bronze. Ao seu lado, uma mulher que não aparentava ter mais que cinquenta anos terranos. De cabelos castanhos-prateados. A voz forte do líder da comitiva pode ser ouvida:

- O que está fazendo por aqui? – Questionou Li Kkan. Seu semblante não era o mais amigável. Já a mulher ao seu lado parecia complacente e amistosa. – Sabes o que problema que pode nos causar se descobrirem que veio em busca de asilo?

- Aí que se engana, Ubukhosi Li Kkan, não vim em busca de asilo. Vim deixar estes três que me acompanham. – Respondeu Corr Sairy, o que deixou Marcelle, Aryannin e Kotharyn perplexos. – E para que toda essa guarda? Pretende me manter em cárcere?

Li Kkan olhou com surpresa com as falas de Corr Sairy:

- Logicamente que não. Lyn Xus que me encheria a paciência se não sair com este acumulo nas minhas costas. – E a expressão taciturna se tornou leve e Li Kkan soltou um riso estridente. – Seja bem-vindo, meu bom amigo. Vamos, temos muito o que conversar. – E, com a tropa se pondo a frente deles, Corr Sairy seguiu ao lado de Elizabeth e Li Kkan:

- Olá, Ubukhosi Elizabeth, como estás? – Corr Sairy a perguntou e, somente obteve um sorriso de retorno.

Depois de uma caminhada naquele lugar extremamente rico, eles chegaram a uma cidade-estado esplendorosa e pulsante, com pessoas nas ruas que passavam e cumprimentavam com um sorriso seu líder. No centro da cidade tinha um palacete tão deslumbrante quanto a cidade, com uma escadaria que parecia leva-los aos céus do planeta. No final da escada, estava um homem que parecia idoso, esperando por eles:

- Então o bom filho a casa retorna. – Disse Lyn Xus. O que mais surpreendeu Marcelle, Aryannin e Kotharyn é que os olhos do homem eram turvos, as írises eram da cor da esclerótica. – Os jovens que o acompanham devem estar pensando como eu enxergo. Bem, eu não enxergo. – E deu um longo sorriso.

Todos adentraram no palacete, que cintilava como uma estrela amarela. Um extenso hall de entrada se alongava na frente deles, mas eles adentraram em uma porta localizada à esquerda, aonde se depararam com uma mesa grandiosa, cheia de cadeiras à sua volta:

- Sentem-se – Convidou Elizabeth. – Traremos algo para degustarem. – E saiu. Todos se sentaram, tendo na ponta próxima deles, Li Kkan e, a sua direita, Lyn Xus:

- Então, - questionou Li Kkan – o que te traz aqui? Está sendo procurado por crimes que são difíceis de acreditar que cometera, principalmente assassinato. – De repente o ambiente se encheu de outros phællansis que cumprimentavam Corr Sairy, como se vissem um velho amigo. Eles se sentaram em locais que estavam vazios na grande mesa. Elizabeth e um grupo de outros phællansis, trouxeram vários pratos de comida, algo que Marcelle, principalmente, nunca experimentara:

- Vai se acostumando, Estrelinha. – Disse Corr Sairy à jovem, com um sorriso. – Aqui eles te tratam com toda a pompa. – Então, Corr Sairy continuou falando direto para Li Kkan, que agora tinha Elizabeth ao seu lado. – Não quero lhes causar problemas. Só vim deixá-los aqui, pois sei que dariam salvaguarda a eles. Esta é a Megami Aryannin... – e antes de continuar, Li Kkan o bloqueou:

- Espere. Você trouxe para cá a Megami dos volosis? Corr Sairy sabe o problema que pode ter arranjado com isso? Qual ciclo de vida ela está?

- Estou próxima dos meus dezesseis ciclos, Ubukhosi Li Kkan – Respondeu Aryannin, se levantando do seu lugar. – Estou ciente que, neste momento deveria estar sendo preparada para o Gisei no hi, mas acredito que não era para ser bem assim.

- Megami Aryannin – retrucou Li Kkan –, eu não tenho como entender o que ocorre no planeta-base de seu povo, mas devemos respeitar as leis em vigência dos planetas-membros da Confederação Galaxial, sem interferir. Somente assim para manter a ordem na Confederação...

- E se a lei em vigência, não for a lei correta, Ubukhosi Li Kkan? – Questionou Aryannin. – Só tem um ser vivo que pode estabelecer leis no meu planeta e esta sou eu. – Li Kkan ficou sem reação, então Elizabeth interveio:

- Megami Aryannin, nos perdoe. Como meu umyeni[5] disse, não temos como entender o que ocorre no planeta-base de seu povo. Sendo assim, és bem-vinda a Phællans... e quanto a este que lhe acompanha?

- Me chamo Kotharyn, Ubukhosi Elizabeth, sou um krarrashin. Eu retirei a Megami Aryannin de seu planeta para conseguir sua liberdade e a do meu povo. – Então foi a vez de Lyn Xus falar:

- Os krarrashins eram um povo que viviam no planeta Volos III, não é? – Kotharyn concordou com a cabeça. – Eles foram tornados escravos após estabelecerem o Gisei no hi da Megami Aryannin.

- Mas foi uma lei que eu não estabeleci. – Disse Aryannin. – Ubukhosi Li Kkan, entendo que não desejas se meter nas políticas e leis de outros planetas. Na verdade, não sabíamos que Corr Sairy nos traria até aqui. Então, caso não deseje nos dar o asilo que ele pede que nos dê, pedimos uma nave para seguirmos por um caminho que não precisemos retornar para Volos VI, pelo menos até eu completar meus dezesseis ciclos, quando terei total consciência de quem sou. Daí então retornarei ao meu sistema estelar e reestabelecerei as leis como devem ser. – Corr Sairy sabia que, mesmo não gostando de se envolver em políticas de outros planetas, Li Kkan era intolerante a qualquer injustiça, principalmente por ser uma pessoa que conhecia bem a própria história de seu povo. Ele sabia que Li Kkan ponderava cada uma das palavras de Aryannin, mas não falaria naquele momento, sendo assim, Corr Sairy interveio:

- Ubukhosi Li Kkan, somente peço que eles fiquem aqui até tomar a decisão correta e acertada. Caso não os queira, faça o que a Megami Aryannin lhe pede. Sabe que é o mais certo. – Li Kkan olhou para Corr Sairy e um breve sorriso surgiu em seu rosto:

- Megami Aryannin, eu não sou um tirano e, acredite, entendo que leis devem ser cumpridas por aqueles que as estabelecem. Aqui estabelecemos em Conselho, reunindo cada um dos meus conselheiros e os ministros das Cidade-Estado de Phællans para ver o que é melhor para o planeta. Como Lyn Xus disse, os que governam seu planeta aparentam descumprir o que criaste. Pensando nisso, concordo com minha unkosikazi e manteremos você aqui, em asilo, bem como o krarrashin. E, Corr Sairy, para com as formalidades, sabe que odeio isso, principalmente quando estamos entre nossos pares. E quanto a esta jovem... como se chama?

- Me chamo Marcelle Menken, Ubukhosi Li Kkan... – Os olhos de todos se arregalaram e foi a vez de Elizabeth, com a voz quase embargada, falar:

- Filha de Thiago e Marcela? Corr Sairy, você encontrou a filha de Thiago e Marcela? – Percebendo que Elizabeth estava comovida, Corr Sairy explicou tudo para eles. Ainda com lágrimas aos olhos, Elizabeth falou ao final da explicação. – Minha jovem, seus pais eram pessoas únicas. Fico feliz de voltar a vê-la. Quando lhe conheci era um bebê. Todos choramos a perda de sua mãe. Quando soube do falecimento de seu pai, pensei que teria um destino como cobaia da Terra. Ainda bem que Corr Sairy não permitiu isso. Uma pena que demorou tanto para ser encontrada, mas a tecnologia da Terra era primitiva. Parece que o universo não é tão grande quanto pensamos, não é Corr Sairy? – E o caolho sorriu para Elizabeth.

A conversa permaneceu descontraída no local, até que Corr Sairy se levantou:

- Bem, está na hora de eu ir. – Marcelle ia se levantar para acompanha-lo, quando ele a interrompeu. – Você ficará aqui. – Ela ficou surpresa:

- Por quê? Não me quer como companhia?

- Não é isso. – Ele disse. – Eu preciso fazer mais uma coisa e depois me entregarei a Confederação Galaxial. Você estará muito bem aqui. Não existe local melhor para ficar. – Lágrimas surgiam nos olhos de Marcelle. Li Kkan olhava para o amigo com profusão, enquanto Elizabeth o olhava com encanto. Os demais conselheiros de Li Kkan admiravam Corr Sairy com respeito. Aryannin e Kotharyn o observavam com agradecimento nos olhos. Então, Lyn Xus levantou e falou:

- Te acompanharei até a pista de pouso. – E os dois saíram. Durante o caminho não trocaram palavras, foi um silêncio respeitoso. Ao chegarem até S.E., Lyn Xus acariciou a nave como se pousasse a mão no ombro de um amigo:

- “O que será de você, Águia de Aço?” – Questionou Lyn Xus através do chip neural:

- “Não sei, Lyn Xus. Talvez eu volte e fique aqui, aos seus cuidados”. – Respondeu a nave. Corr Sairy então falou com o velho usosayensi omkhulu:

- Lyn Xus, peço que avise a Ja Kris que me encontre com seus representantes na região 14 do sistema Pokaar.

- E o que você vai fazer naquele sistema desabitado? – Questionou Lyn Xus. – Não tem nada lá.

- Vou encontrar os Gêmeos. – Respondeu Corr Sairy. – S.E. recebeu a última localização deles há pouco tempo atrás. Aqueles nômades decidiram colocar o bar deles lá. Nunca se sabe quanto tempo permanecerão até a próxima jornada deles. Preciso vê-los.

- Vai novamente atrás de um mito? – Questionou Lyn Xus.

- Eles me fazem acreditar que é mais que um mito. – Disse Corr Sairy. – E prometeram me provar que é mais que um mito.

Lyn Xus abraçou o amigo e Corr Sairy embarcou em S.E., que desenhou as coordenadas e colocou Corr Sairy em sono hibernário.



[1] Senshi (戦士) = guerreiros

[2] usosayensi omkhulu = cientista-mor

[3] Ubukhosi = soberano

[4] Ababusi = governantes

[5] Umyeni = marido